sexta-feira, setembro 23, 2005

Tradições

Num dia em que me dedico às vindimas penso que o desenvolvimento e a evolução tecnológica tiveram um preço a pagar, embora tenha sido pago de bom grado. Com a entrada de Portugal no leque dos países desenvolvidos, pelo menos no papel, assistiu-se ao desenvolvimento tecnológico do país, à diminuição da mão de obra necessária à realização das tarefas, e verificou-se o progressivo desaparecimento de artesões e das tradições ligadas à vida campestre.

Embora uma consequência da evolução técnica e económica não é sem alguma pena que assisto ao desaparecimento de algumas tradições, substituindo-se o trabalho manual por maquinaria, substituindo-se o único pelo fabrico em série e em alguns casos o simples desaparecimento, não existindo necessidade de substituição.

sábado, setembro 17, 2005

Discriminação

Não vale a pena enfiar a cabeça na areia, ela existe, apesar das acções de sensibilização, que pontualmente vão surgindo na comunicação social. Nesta mesma semana se discutiu a realização de uma manifestação, promovida por grupos de extrema direita, contra o lobby gay, a pedofilia e a adopção de crianças por gays.

Aparentemente estes três assuntos estão interligados, como a opinião pública o certamente confirmará, mas eles são muito díspares.

Não sei o que é o lobby gay, porque apesar de reconhecer a existência de grupos de pressão económicos, políticos, financeiros, que têm capacidade para exercer pressões sobre alguns responsáveis do País porque conseguem oferecer contra partidas ou alterar as regras do mercado. Se me disseram que os gays conquistaram ao longo do tempo o direito a ser referenciados na comunicação social sem serem retratados como aberrações isso é totalmente verdade, mas daí a se terem tornado num lobby?

A pedofilia não tem nada a ver com a homossexualidade, sendo uma perversão, algo a ser denunciado e tratado.

Sobre a adopção de crianças por parte de homossexuais temos que reconhecer que é algo me mexe com a mentalidade de um país conservador, dito católico e que é algo a ser debatido, mesmo pelas pessoas que não sejam católicas, mas mesmo assim com valores e crenças. Mas no fundo podemos questionar se é preferível uma criança infeliz num lar ou uma criança acarinhada e com acesso a todas as possibilidades que o mundo oferece, embora os seus progenitores adoptivos sejam homossexuais!!!

Mas a verdade é que esta manifestação foi autorizada, e iremos ver se as ideias aí defendidas não passam de pura discriminação e apelo ao ódio contra homossexuais e estrangeiros, que apesar de toda a camuflagem são os únicos interesses defendidos pela extrema-direita. Por algum motivo os associamos sempre ao movimento dos cabeças rapadas (skinheads)?

De uma vez por todas é necessário acabar com o preconceito que o diferente é necessariamente mau e/ou perigoso e/ou estranho. A discriminação é um veneno que pode correr uma sociedade, nunca nos devemos esquecer alguns dos principais motivos que rodearam o início da Segunda Guerra Mundial e que essa mesma guerra foi levada a cabo por elementos de extrema-direita (não que ache que a extrema esquerda seja muito melhor ou que tenha ideias mais nobres, no fundo os extremos devem evitar-se e estar sempre sobre vigilância).

Em Portugal todos achamos condenáveis as acções levadas a cabo por grupos extremistas ingleses, que resultam na agressão e intimidação da comunidade portuguesa em Inglaterra. Mas isso tem o nome de discriminação. Porque achamos tolerável a existência de agressões a pessoas de nacionalidade diferente da nossa, de cor de pele diferente, de preferência sexual diferente? Mas a discriminação não para por aqui, existindo também discriminação das mulheres de forma generalizada pelo Mundo fora!!!

No fundo temos ainda um longo caminho a percorrer enquanto raça humana, mudando comportamentos e deixando de tolerar certos e determinados comportamentos. Como alguém disse, TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS.

Lágrima de Preta (António Gedeão)

Encontrei uma preta

Que estava a chorar,

Pedi-lhe uma lágrima

Para a analisar.

Recolhi a lágrima

Com todo o cuidado

Num tubo de ensaio

Bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,

Do outro e de frente:

Tinha um ar de gota

Muito transparente.

Mandei vir os ácidos,

As bases e os sais,

As drogas usadas

Em casos que tais.

Ensaiei a frio,

Experimentei ao lume,

De todas as vezes

Deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,

Nem vestígios de ódio.

Água quase tudo

E cloreto de sódio.

sábado, setembro 10, 2005

Ter um blog

Existem 17 milhões de blog´s, pelo menos. Mas o que leva uma pessoa, sã de corpo e espírito a querer criar um blog? Podemos pensar que é o efeito carneiro. Este efeito, que nos afecta, principalmente na juventude, o que um faz um, fazemos todos, é responsável por actos extraordinários. Por exemplo, quem não tem um livro do Saramago? Na altura em que ele ganhou o Nobel, ficou popular comprar um livro do senhor. Por acaso eu tenho, já os li todos, já o conhecia antes do Nobel e se ele não quer usar pontuação, isso é com ele.

Já temos dois factores, para o número de blog’s que existem, a popularidade e a imitação de comportamentos. Por acaso, normalmente copiamos o que é popular, por muito parvo que as coisas nos pareçam seis meses depois, como acontece por vezes na moda.

Mas para além de criar um blog, temos que actualizá-lo. E aqui é que entram os verdadeiros apaixonados pelo seu blog. Porque, não parecendo, por vezes dá trabalho criar um post diário original. E por isso é que existem blog’s que não resistem ao primeiro mês, quando descobrimos o trabalho que isto dá.

E o que se escreve num blog? Tudo o que nos der na real gana no momento. Aqui não existem regras escritas, de estilo, temas previamente escolhidos, cada um edita o blog como quer. Se me apetecer escrever que acordei triste, posso fazê-lo. Se quiser escrever um post, sobre a dificuldade em escrever um post, também o posso escrever. Aqui está uma das chaves para a o número de blog’s que existem. Um outro aspecto a considerar é facilidade em criar o blog e em colocar os post’s. Não são necessários quaisquer conhecimentos de html, de Front Page, ou de qualquer outro editor de html, sendo apenas necessário uma ligação à Internet.

É fácil, podemos expressar o que nos vai na alma, postamos quando queremos, inventamos palavras como postando, partilhamos imagens, sons, ideias, alguém quer mais alguma coisa. O tempo é um óptimo crivo para apurar os blog’s que irão permanecer na blogosfera, todos os dias desaparecem bons blog’s, mas também aparecem blog’s com um conteúdo extraordinário.

Quando postamos, podemos permitir que os leitores do blog o comentem ou não. Se comentarem e não gostarmos, não há problema, porque podemos a partir daí não permitir comentários aos nossos post’s, ignorar simplesmente, escrever um post a denegrir a imagem da pessoa, ir ao blog da pessoa e retribuir o favor, somos livres de fazer o que queremos.

Só no tempo que me demorou a escrever isto, apareceram para aí uns mil blog’s. Não é gralha porque é criado um blog por segundo, em média.

Há um ditado sobre o que devemos fazer na vida, plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Eu diria que nos dias que correm, plante uma dezena de árvores, edite um blog e ajude as crianças em África.

sábado, setembro 03, 2005

Chico esperto

Todos conhecem alguém que é o verdadeiro chico esperto. Tem sempre resposta na ponta da língua, tem a mania que sabe tudo, grita as maiores asneiras sem se importar ou se dar conta da estupidez proferida, safa-se com uma pinta de todo o tamanho, não liga a prazos, instruções e disposições legais, inventou o termo desenrascar para se auto caracterizar como mestre nessa área e é um grande amigo da cunha.

Ao vê-lo trabalhar é um mimo, minimizando o trabalho produzido e maximizando a ilusão de atarefado, é um regalo para os olhos. Sempre pronto para um negócio debaixo da mesa, ciente dos seus direitos e ignorante dos deveres.

Mirone natural, não de praia de nudista (só no Verão), mas ávido de um belo acidente à beira estrada ou de um incêndio florestal. Apreciador de desporto, que acompanha sempre com a bela da cerveja e do tremoço, refastelado à frente do televisor.

Amante das últimas modas, seja a peúga branca, o fato de treino fluorescente no centro comercial, os três telemóveis com toques estranhos ou o colete reflector a proteger o banco no carro.

Entre as suas frases preferidas encontramos:

“A estrada é só para mim.”

“Regras? Isso é para os outros!”

“Igualdade? Sempre! Eu primeiro, depois os outros e se houver espaço, então as mulheres e pessoas diferentes de mim depois.”

Alguém conhecido?