domingo, setembro 10, 2006

Poema para Galileu

No ano em que se comemora o centenário do nascimento de Rómulo de Carvalho(24/11/1906):

Poema para Galileu

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria...
Eu sei...Eu sei...
As Margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo de praia?

Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las - ,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo
caindo
caindo
caindo sempre,
e sempre.
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

António Gedeão

Uma bela história

Num seminário de gestão para executivos de topo, o professor convidado estava de pé com alguns objectos em cima da secretária.
Quando o seminário começou, ele, calado, pegou num frasco grande de vidro vazio e começou a enchê-lo com pedras. Quando não cabiam mais, ele perguntou aos assistentes se achavam que o frasco estava cheio.
Todos responderam que sim.
O professor então pegou num saco de feijões secos e, ao chocalhar o frasco, estes iam entrando para os buracos vazios entre as pedras. Quando não cabiam mais, ele perguntou aos assistentes se achavam que o frasco estava cheio.
Todos responderam que sim.
Neste ponto, o professor despejou um saco de areia para dentro do frasco. Como é óbvio, a areia ocupou todo o espaço restante do frasco. Quando não cabia mais ele perguntou aos assistentes se achavam que o frasco estava cheio.
Todos responderam que sim.
Foi então que o professor agarrou em dois copos de café e os entornou lá para dentro.
Agora sim, não havia mais espaço.
Os assistentes desataram a rir !!!
"Agora," disse o professor enquanto as gargalhadas ainda se ouviam, "eu quero que vocês reconheçam que este frasco representa a organização da vossa vida e do vosso trabalho".
"As pedras são as coisas mais importantes: a família; os filhos; a saúde; os amigos e tudo o que vos é mais querido, de modo que se tudo na vida desaparecesse e só ficassem elas, a vossa vida continuava cheia!"
"Os feijões são as outras coisas importantes da vida: o trabalho; a casa; o carro;
"A areia é tudo o resto das coisinhas pequeninas."
"Se encherem primeiro o frasco com a areia, já não há espaço para o feijão nem as pedras. O mesmo se passa com a vida. Se gastarem todo o tempo e a vossa energia com as pequenas coisas nunca vão ter espaço para as coisas que são verdadeiramente importantes para vocês. Prestem atenção às coisas que são essenciais à vossa felicidade. Brinquem com as crianças. Tirem tempo para ir ao médico, talvez fazer um check-up. Saiam para um jantar romântico. Vai haver sempre tempo para arrumar a casa, para despachar um trabalho que só falta um bocadinho. Tomem conta das vossas pedras primeiro, das coisas que têm mesmo importância. Tenham prioridades. Para o resto vai sempre haver espaço. Não encham o vosso frasco primeiro com a areia, pois as pedras não vão caber no fim."
Um assistente perguntou:
- E o café o que é ?
- Ainda bem que pergunta. Eu ia agora mesmo dizer-vos. É que mesmo que sintam que a vossa vida está cheia, há sempre espaço ainda para beber um café com um amigo.

(recebida por e-mail)

domingo, setembro 03, 2006

O sentido das palavras

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

sábado, setembro 02, 2006

Frases Feitas

Uma pessoa não vale pelo que tem, mas sim, pelo que dá.